No início das nossas operações no terminal, em 2017, foi possível observar que duas espécies de aves marinhas ameaçadas de extinção no Brasil, o trinta-réis-de-bando (Thalasseus acuflavidus) e o trinta-réis-de-bico- vermelho (Sterna hirundinacea), passaram a utilizar o terminal anualmente, de abril a setembro, como local de nidificação. Percebemos também que as áreas escolhidas não eram as mais adequadas para a sua reprodução, considerando os distúrbios da circulação de veículos e das atividades operacionais sobre o comportamento e sucesso reprodutivo das aves.
Nesse contexto, buscamos caminhos sustentáveis, que possibilitassem o melhor convívio dessas espécies com as atividades operacionais. A partir disso, em 2019, realizamos um diagnóstico que direcionou ações de monitoramento contínuo, processos de manejo, afugentamento e educação ambiental. Já em 2022, identificamos a oportunidade de ir além, com a estruturação de um robusto projeto de conservação, que recebeu o nome de Aves do Açu. A iniciativa envolve trabalhos de pesquisa, conservação, mapeamento de rotas migratórias e manejo das aves, além de ações de educação ambiental entre nossos colaboradores e nas comunidades. Prevê ainda a expansão para outras Unidades de Conservação da Região Norte Fluminense, com estudos da avifauna e da flora.

Nesse sentido, o Aves do Açu está ancorado em três pilares, que se refletem em três linhas de atuação a serem desenvolvidas ao longo de cinco anos:

Pesquisa, conservação e manejo dos Trinta-Réis no Terminal
Pesquisa, conservação e manejo da avifauna costeira em unidades de conservação da região
Mapeamento de rotas migratórias, enriquecimento da fauna e da flora e expansão das atividades para as unidades de conservação
Com base nessas linhas de atuação, em 2022 iniciamos o manejo e o monitoramento da atividade reprodutiva das aves, incluindo a proteção dos ninhos, o acompanhamento do sucesso reprodutivo e o anilhamento de filhotes.

Até o momento, 375 ninhos de trinta-réis-de-bico-vermelho, foram identificados, monitorados e protegidos, sendo 72 na estação reprodutiva de 2022, 213 em 2023 e 90 em 2024.


Em 2023 e 2024, houve a postura de 293 e 140 ovos de trinta-réis- bico-vermelho respectivamente, os quais foram monitorados para verificação do sucesso de eclosão. Em 2022, devido à metodologia de monitoramento adotada, não foi possível quantificar o total de ovos postos no terminal.


Até o momento, foi registrado o nascimento de 197 filhotes de trinta-réis-de-bico-vermelho no terminal, sendo 32 na estação reprodutiva de 2022, 96 em 2023 e 69 em 2024.


Em 2024, além dos trinta-réis-de-bico-vermelho, também houve a formação de uma numerosa e densa colônia reprodutiva de trinta-réis-de-bando, elevando a importância do terminal para a reprodução dos trinta-réis e a nossa responsabilidade para a conservação das aves marinhas. Apesar dos desafios, através do isolamento da área ocupada pelas aves durante o período reprodutivo, foi possível conciliar a reprodução de cerca de 3.500 trinta-réis-de-bando com as atividades operacionais no terminal.


Ao todo, foram anilhados 62 filhotes de trinta-réis-de-bico-vermelho, sendo 31 em 2022 e 31 em 2024, além de quatro aves adultas também anilhadas na campanha de campo de 2024. Não houve atividade de anilhamento em 2023 devido às restrições impostas pelo estado de emergência zoosanitária em território nacional por conta gripe aviária.

 

O anilhamento é uma importante ferramenta no estudo de aves, pois gera informações sobre padrões de distribuição e migrações, permite conhecer a idade das aves, estimar parâmetros demográficos e compreender com qual frequência as aves utilizam determinados sítios reprodutivos. Os dados das aves anilhadas são posteriormente registrados no banco de dados unificado do Sistema Nacional de Anilhamento, Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Aves Silvestres (CEMAVE/ICMBio).

Com esse monitoramento intensivo, pesquisa e estratégias de mitigação bem planejadas e executadas, temos tornado o terminal uma área estratégica para reprodução e conservação dessas espécies, contribuindo também para o Plano de Ação Nacional para a Conservação de Aves Marinhas (PAN Aves Marinhas/ICMBio). Neste sentido, o Aves do Açu visa se tornar uma plataforma incubadora e de apoio a projetos de conservação – razão pela qual almejamos firmar parcerias e solidificar a governança da iniciativa e viabilizar formas para que o projeto conquiste autonomia e independência. Esses pilares demonstram alinhamento aos princípios de sustentabilidade em nossa gestão, que podem ser compartilhados e replicados por outros terminais.